domingo, dezembro 30, 2007

Guerra Cultural: Aborto, debate pobre

Já está cansativo a profusão de artigos nas páginas centrais de O Globo fazendo apologia da descriminalização do aborto. Os textos e argumentos são repetitivos e os autores de diversas filiações "ongisticas" parecem ter autorização de toda a "comunidade militante" para plagiar ou simplesmente copiar uns aos outros. Ao invés do propalado chamamento ao debate temos propaganda repetitiva com o objetivo de simples lavagem cerebral já que os argumentos são ocos, pífios e toscos.
O último, de Patrícia Rangel (pesquisadora, OPSA-IUPERJ) publicado em 28/12, não foi diferente. O argumento mais tosco, e um dos mais repetidos, é: "As objeções à legalização, geralmente de fundo religioso devem ser respeitadas enquanto escolha ou livre opção, mas precisam ser situadas fora do debate político. Sendo laico, o Estado brasileiro deve discutir o tema como problema de saúde pública, não como questão moral."
A densidade de equívocos nessa frase é tanta que é preciso ir por partes:
  1. "As objeções à legalização, geralmente de fundo religioso(...)" Aqui o argumento recorrente que procura desqualificar liminarmente os opositores pelo simples fato de suas convicções eventualmente terem origem em crenças religiosas ou por ser a Igreja, em todas as suas confissões, a principal porta-voz da população contrária a descriminalização do aborto. O conjunto de valores éticos e morais de uma sociedade tem, em sua grande maioria, origem religiosa, e mesmo não-crentes comungam largamente de tais valores, que são intrínsecos e inseparáveis da sociedade, eles definem quem nós somos como civilização, povo, comunidade e indivíduos. Em uma sociedade democrática, os valores da maioria da população devem prevalecer, independentemente de sua raiz. Pois bem, a maioria do povo brasileiro identifica o aborto como um crime contra a vida humana e portanto coibi e nega esse "direito" aqueles que eventualmente pensem diferentemente.
  2. "(...)devem ser respeitadas enquanto escolha ou livre opção, mas precisam ser situadas fora do debate político." Pueril tentativa de flanqueamento: "pensem o que quiserem, mas como seus argumentos já foram liminarmente desqualificados por vício de origem, passemos a próxima etapa sem sequer ouvi-los, estando portanto banidos da vida política e da possibilidade de fazer valer seus pontos de vista, e nós, a minoria organizada e engajada, prevaleceremos sobre todos vocês".
  3. "Sendo laico, o Estado brasileiro deve discutir o tema como problema de saúde pública, não como questão moral." Custo a crer que seja por ignorância que se confunda a separação institucional entre Estado e Igreja com a desconsideração pura e simples das crenças e valores da população a quem pretensamente os homens públicos representam. No limite, se esse preceito fosse levado às última consequências, seríamos dominados por uma tirania sanguinária e amoral. Todas as questões públicas são de fundo moral e a moral e a ética têm de estar presentes e embasar as escolhas e decisões dos governantes, aliás, como em tudo na vida das pessoas.

Vamos aguardar o próximo round nessa batalha, o próximo artigo, com a mesma ladainha de sempre. Se o Congresso fizesse sua parte e votasse e rejeitasse de vez esse projeto de lei ignóbil talvez tivéssemos um pouco de sossego...

Nenhum comentário: