quarta-feira, março 29, 2006

Palocci, o Crime e a Mídia

O nível de diversionismo de nossa grande imprensa, escrita ou televisiva, não têm limites quando se trata de atenuar, "anestesiar" ou mesmo esterilizar todo e qualquer fato que atente contra a "boa imagem" do establishment petista.

Exemplo cabal foi a queda do Palocci. O senhor ex-ministro teve em mãos o extrato da conta do caseiro obtido de forma criminosa. Isso segundo o ex-presidente da CEF que afirmou ter ele próprio levado o extrato ao então ministro, que, diga-se de passagem, não desmentiu tal afirmação. Ora, tal singelo fato por si só torna o Dr. Palocci, por silêncio e omissão, cúmplice de um crime independentemente de ter autorizado ou determinado seu "vazamento" para a imprensa, crime este cometido pretensamente em seu benefício.
Tal situação é absolutamente escandalosa e demonstra, mais uma vez, o nível de aparelhamento da máquina estatal brasileira por um partido em prol de um projeto de poder totalitarista que não se acanha em atentar contra o Estado democrático de direito por um mínimo instante sequer.
No entanto, a nossa grande mídia se esforça para não chamar a atenção desse fato capital em todo o episódio. Tal esforço envolveu, por exemplo, uma inversão do que seria a pauta natural e mesmo a chamada principal do Jornal Nacional da noite de Segunda-Feira, que poderia ter sido algo como "Presidente da CEF depõe na PF e causa a queda de Palocci ao incriminá-lo na quebra de sigilo do caseiro Francenildo". Esta foi, de fato, a razão derradeira para sua demissão pelo presidente Lula, e portanto o dado central do dia a partir do qual tudo o mais foi conseqüência. Mas não foi isso o que vimos no JN, mas sim uma cuidadosa e elaborada pauta diversionista. Senão, vejamos como se deu a seqüência das notícias a partir de suas chamadas:
  • "Quebra do sigilo do caseiro derruba Palocci" (não menciona que ele esteve com o extrato em suas mãos);
  • "A trajetória de Palocci";
  • "O novo ministro da Fazenda";
  • "Tensão no mercado financeiro";
  • "A reação em Brasília";
  • "A demissão do presidente da Caixa".

Apenas neste último bloco é mencionada a gravíssima acusação feita ao ex-ministro pelo então presidente da CEF e que acabou por resultar na demissão de ambos. Notem que nem a chamada do bloco noticioso destaca o seu dado mais importante. Quanto trabalho não deve dar tamanha dedicação em quase esconder completamente um escândalo desse tamanho! Vejam o esforço para deixar tudo nas entrelinhas, uma menção na chamada e uma única e lacônica frase perdida no meio do texto:

"Pouco antes da saída de Palocci, o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, afirmou à PF que tinha entregado diretamente ao ministro o extrato bancário do caseiro Francenildo.

[seguem 4 parágrafos]


Mattoso recebeu o extrato na noite de 16 de março do consultor Ricardo Schumman durante um jantar. Em seguida, ele foi à casa de Palocci e entregou o extrato nas mãos do ministro.


[seguem mais 10 parágrafos]".

O JN deve deixar a CNN e o New York Times corados de vergonha diante de tamanha competência (ou cara de pau, como preferirem) em táticas diversionistas.

domingo, março 12, 2006

Guerra Cultural: Front na Educação e Retaguarda na Mídia

O JB de hoje publicou em sua segunda página reportagem de Leandro Mazzini com o título "Militares censuram Guevara em sala de aula". A reportagem trata da proibição de exibição do filme "Diários de Motocicleta" para 90 alunos de três turmas de sétima série da escola Fundação Osório, "entidade de direito público vinculada ao Comando do Exército.
O repórter, como habitual nesses casos, faz de seu texto arma de propaganda contra a força terrestre em geral e contra a direção da escola em particular: "[o general Ney Oliveira] foi indicado pelo general Francisco Albuquerque, o mesmo que deu carteirada em um avião da TAM há 11 dias em Campinas." Aqui, o diligente agente orgânico não se acanha em lançar mão de fato totalmente alheio ao objeto de sua "reportagem", nem de esconder seu mal disfarçado ódio, para reforçar seu intento em desmoralizar a direção por vício de origem, já previamente rotulada de "censora" logo na chamada de seu texto.
Mais adiante, incontido em seu proselitismo "politicamente correto", o agente-repórter destila: "[o filme] foi exibido mundo afora (...), mas acabou sendo censurado, em um ponto do planeta onde a liberdade de expressão deve ter mais poder que a mensagem nas telas: dentro de uma sala de aula". Ora, que grande asneira senhor repórter, sala de aula não é palanque político nem tribuna para a livre veiculação de idéias que passem pelas cabeças vazias de qualquer professor. Muito menos pode existir algo como liberdade de cátedra nos ensinos fundamental e médio. O conteúdo, respeitados os ditames mínimos do MEC, e a forma com que é passada aos alunos é de responsabilidade da direção de qualquer escola e dos pais que devem acompanhar de perto o que é ministrado aos seus filhos. Minha filha estuda em uma escola que escolhi por que confio na linha educacional que a diretora e proprietária mantém a mais de trinta anos, independentemente da professora de plantão em sala de aula, e vigio de perto o que lhe é ensinado. Se discordar, vou reclamar a quem de direito.
O coordenador de geografia da escola, professor Maurillo Neto, que saiu em defesa da professora que iria exibir o filme, cujo nome foi cuidadosamente omitido, mostrou sua revolta contra a decisão da direção: "A escola desestimula atá a projeção de filmes, (...) numa clara demonstração de autoritarismo (...), dignos de uma ditadura." Meu caro coordenador, se eu fosse o diretor, você seria demitido ou afastado de sua coordenação. Uma escola não é e não deve ser estruturada como uma "democracia", soviete ou "assembléia permanente". Se há um lugar onde hierarquia e disciplina devam estar presentes é na escola, sem o que só restará balburdia e caos, que é o que, aliás, muitos desejam. Tais valores são na verdade uns dos principais a serem transmitidos aos alunos. A direção, ao contrário do que prega o coordenador, entende e assume sua responsabilidade para com alunos e pais ao recomendar que os departamentos "exerçam efetivo controle das atividades de ensino (...), particularmente quanto aos meios de instrução (...) utilizados durante as aulas". Bravo, senhor diretor!
Para não se sentir só em seu proselitismo contra a direção da fundação, típico dos raids esquerdistas, o repórter foi buscar respaldo com especialistas em educação, e o senhor Rubem Alves nos sai com a pérola de diversionismo: "É um sistema ditatorial dentro de um sistema democrático. Uma instituição educacional tem o dever de prezar pela liberdade de informação. A censura é uma contradição entre as práticas no colégio (SIC) e o que é essencial numa sociedade. É impensável a intimidação de professores". Durma-se com um barulho desses: escolas deveriam ser arenas livres para o pleno fluxo de todas as informações ao bel prazer de quem decidir veiculá-las. E eu que sempre pensei que modular a transmissão de certas informações em consonância com a idade e a maturidade dos alunos fosse missão essencial do processo educacional.
Quanto ao mérito em si sobre a exibição ou não do filme, o diretor da escola, o coronel Geraldo Alonzo, resumiu bem: "Tenho que dar uma educação que seja propícia para todos os alunos. [O filme] não soma nada em termos educacionais (...)". O que o diretor não disse é que a não exibição do filme poupou seus alunos de uma propaganda que faria exaltação sutil e subliminar a um facínora cuja imagem continua estampada em bandeiras e camisetas pelo mundo. É irrelevante que o filme não faça mensão a vida guerrilheira-terrorista posterior da personagem. Para crianças de doze anos a mensagem que ficaria seria "poxa, que cara maneiro", o que não passa nem perto da verdade.